terça-feira, 28 de julho de 2009

Ode à Repetibilidade

"A utilização de um processo bem determinado torna o desenvolvimento de software repetível, ou seja, pode ser programado, os custos podem ser calculados com maior precisão e os tempos de desenvolvimentos são previsíveis." - Carta de Kent Beck aos Desenvolvedores, 11:23-58

Olá, saudável leitor que eu tanto invejo. Enquanto gozas de saúde inabalável, cá estou eu sentindo calafrios e me recuperando da maior amidalite que já tive na vida. "Uau, nunca vi uma coisa assim!", disse o médico que me atendeu, reproduzindo essa frase que já foi dita incontáveis vezes em incontáveis filmes pornôs.

Pois a vontade de postar é grande, e idéias não faltam. O que falta é tempo. Por isso, sem mais delongas, oferto-vos a reflexão do dia, de modo similar à Tarrega, que oferta a empunhadora exata e irreprimível do violão na foto abaixo:


Ói que fofo, o Tarrega!

Pois bem. A repetibilidade. Uma palavra que nem sei se existe, mas que é incessantemente buscada em nossa sociedade baseada em regras e processos de aparência automática. A repetibilidade de Kent Beck, de Nuno Cobra, do Kama Sutra.

Tomando o desenvolvimento de software por exemplo, já que dele falo com certo conhecimento de causa por ser ele diretamente ligado à minha área de formação. O desenvolvimento de software deveria ser repetível. O processo que baseou o desenvolvimento de um software bem sucedido deveria ser passível de repetição. Mas não é, leitor. Infelizmente não é, na enorme maioria das vezes. E sabe por quê?

Porque os elementos externos que influenciam o desenvolvimento de software são complexos e intrincados e, surpresa, não são controlados por você. Só uma gerência de riscos muito eficiente faria com que, de fato, os pequenos e grandes demônios que surgem ao longo do desenvolvimento de um software não interferissem de maneira cruel e decisiva no resultado final. Um exemplo: os desenvolvedores são pessoas, e pessoas não rendem o mesmo todos os dias. Desenvolvedores brigam com suas namoradas. Desenvolvedores se preocupam com o Timão. Desenvolvedores ficam de porre na terça-feira e passam muito, muito mal na quarta. E tornar o desenvolvimento de software independente de pessoas é estranho por demais na teoria, e não funciona mesmo na prática.

O sucesso pessoal também não é repetível, grande leitor. Se fosse, tinha gente ficando rica mesmo lendo livros como "Fique Rico, Mesmo". Ou saindo da depressão lendo "Saindo da Depressão". Ninguém está disposto a seguir os passos para o sucesso que alguém escreveu assim, sem mais nem menos. E pior: por mais esmiuçados que esses passos tenham sido descritos, um mero detalhe que nos passa desapercebido já é o suficiente para inverter o resultado de nossos esforços.

A sua melhor transa, leitor, não é repetível. Você não sabe, mas batia naquela ocasião um vento à sudoeste que em muito favoreceu a coisa toda. Você também não sabe, mas o cheiro da jaqueta de couro que usavas então, misturado com o desodorante Avanço que continha 0,015% mais álcool do que o regulamentado pela Anvisa fez com que você se tornasse consideravelmente mais atraente aos olhos de sua amada. E ela, por sua vez, havia deixado cair 0,378 g de gel dental Colgate Total 12 Whitening no vestido, a 12,8 cm do umbigo, e a visão daquele detalhezinho branco trouxe à tona todo desejo oculto havia 12 dias, desde a última briga. Tente repetir isso agora, amigão.

Que curioso, esse mundo! Dividido entre os que acham que existem coisas minimamente complexas repetíveis, e aqueles que vivem no caos completo por acreditar que tudo é fruto do acaso. Ou não.

Beijos e mais beijos, até a próxima!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Musculitos GO HOME!!!

Olá, simpático leitor! Simpático sim, mas bombado não, por motivos que logo abaixo serão revelados. Pois é ao som de "Rocky Raccoon", dos Beatles, que vos escrevo essas poucas linhas numa fria e paulista quinta-feira invernil, enquanto algumas mensagens do ICQ pululam do lado do meu reloginho, que além do ícone dele trás, também, o ícone do Napster. Haha. Peguei vocês, não foi? Flashback de 1999, for free pra você, leitor nostálgico.

Pois bem. São 20:26 e me encontro de pijama. Cheguei cedo da labuta hoje, e fiquei com aquela vontade de ter o que fazer sem ter, como fico todas as vezes que chego cedo do trabalho às quintas-feiras. Eis que pouco tempo depois chegou à casa uma chegada minha, pessoa mui gabaritada, que de tão profissional nem precisa de diploma para ser quem é. Haha. Tô de brinks, chegada minha! Tô engraçado hoje. Tô!

Mas então, eis que estava passando às 20:06 pela sala, portando meu pijaminha, quando me detenho por alguns instantes à frente da TV na qual minha chegada estava assistindo a um clipe. Uma das cenas trazia um corredor onde jovens semi-nus protaganizavam sem-vergonhices quase explícitas, num festival de lascívia e mojo à flor da pele. Coisa que escadalizaria o finado Pastor Silas.


Lots of mojo, baby!


Não mais do que de repente, dum dos quartos do corredor sai ninguém menos que Britney Spears, com um penteado anos 50, vestindo um provocante vestido rosa. Pois bem, o que me assustou e provocou a reflexão a seguir não foi a imagem de Britney, mas sim a dos homens e mulheres bem-definidos que a circundavam.

vishhh, vc eh beecha! hhssasashafdadaha

Não sou não, seu leitor atrevidinho e homofóbicuzinho. Como disse, a visão me provocou ao ponto de incitar, em mim, reflexões profundas acerca da bem-definição.

Você por certo conhece bem-definidos. Todos conhecemos. Você sabe, aquele moço ou moça com barriga tanquinho, braços e pernas musculosos. É bem verdade que você e eu gostaríamos de ser um deles.


Lots of muscles, baby!

Mas vc já reparou, leitor pensativo, que a grande maioria desses homo sapiens, referenciados daqui por diantes como musculitos, se metem em grandes enrascadas e muita confusão, nenhuma delas sendo, porém, digna no sentido digno da palavra? Esses simpáticos seres são tipicamente vistos em:

1. Brigas na porta de baladas;
2. Clipes de celebridades e pseudo-celebridades, rebolando seus corpos;
3. Programas da Sônia Abrão e outros vespertinos, quando caem no ostracismo;
4. Quadros da Praça é Nossa, atuando como figurantes;
5. Filmes pornô com russos;
6. Filmes pornô com extintores de incêndio;
7. Propagandas de produtos do Polishop;
8. Grupos de axé;
9. Concursos de levantamento de barris;
10. Luta livre.

As demais, deixo como exercício para o leitor.

Ora, não sei quanto a você, leitor precoce, mas não gostaria que meu filho se metesse nas divertidas enrascadas e confusões listadas acima. E em especial, não gostaria que meu filho protagonizasse situação como a ridícula que segue, contada pela minha chegada. Ela jura que encontrou isso em uma comunidade de uma famosa rede social, que poderia ser o Orkut, mas não é. Acompanhem:

Título: pegar músculo comofas?
Mensagem:
ae eu tou fas 2 meses puchando ferro o pessuau da academia disse preu comer pão com hipoglós pra pegar músuclo. tou comendo todo dia de manhã mas e muito ruim e eu ainda nao tou musculoso. sera que tou fasendo certu?

Fico perguntando se o excesso de músculos diminui o número de conexões no çélebro, ou ainda se diminui o interesse pelas coisas que nós, seres flácidos, nos interessamos e que nos torna minimamente interessante ou menos patéticos. Como istudo, instrussão.

Me pergunto, ainda, se aqueles aficcionados por outras coisas nesse mundão de Mëldels sofrem do mesmo mal que os musculitos. Não consigo imaginar, por exemplo, um filatelista comendo pão com Hipoglós porque alguém o convenceu de que, fazendo isso, aquele tal sonhado selo neo-zelandês iria parar em suas mãos.

Não sou de forma alguma contra a prática de exercício físico, leitor. Não se engane. Há alguns meses iniciei a prática regular de exercícios físicos, como recomendado na embalagem do Corpus, uma vez que percebi-me um ser sedentário, como os franceses, e não nômade, como os ciganos. E se você não se cuidar também, vai morrer ao 35 vítima de um infarte enquanto saboreia uma picanha no Fogo de Chão, paga com o bônus que ganhou de seu chefe.

Mas, se virar um musculito no molde dos supra-citados, é provável que morra aos 26, vítima de uma briga na porta da balada.

aiiiiii...te odeio.....you're so true!

True pra kct, leitor. Como uma variável booleana. ^^ Pode crer!!!

Bjos no mindinho!!!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Olá você, simpático leitor! Nunca antes nesse blog havia eu me dirigido a você, simpático homo sapiens, razão última pela qual escrevo essas bem traçadas e delineadas linhas. Bem traçadas e delineadas porque são obras do editor de texto do Blóguer; fosse pela minha destreza elas seriam mui tortas e disformes, criatura de caligrafia críptica que sou. Aliás, caligrafia me lembra Calígula, que a Wikipedia me diz ser o terceiro imperador romano.


K-Ligula

Mas nada disso tem a ver com o que se passa aqui, leitor sagaz, austero, porém simpático. Resolvi volver às origens, o que significa dialogar com você. Ainda que você seja arisco e não responda às minhas provocações e não comente meus posts.

Lembro-me de uma codorna que tive quando criança, igualmente arisca. Ficava ciscando no quintal, e quando ouvia mamãe ou algum de nós se aproximando, corria e se escondia atrás da geladeira velha que ficava desligada na lavanderia. Eis que, num belo sábado, achamos por bem amarrar os pés dela e levá-la de volta à loja de animais onde a havíamos comprado. Devolvemos a codorna, leitor amigo, porque ela foi arisca.

Imagino que se à época tivéssemos um blog, a codorna se recusaria igualmente a comentar nossos posts. Essa história deve ser encarada como uma parábola, leitor belíssimo, que não irá gerar graves consequências para sua integridade física e intelectual caso a moral dela chegue ao seu coraçãozinho. ;-)

Agora, sério. Segure o riso, por favor.

Leitor amigo, uma idéia me assalta em momentos oportunos e inoportunos. E tem a ver com mestrado e Tempo Perdido.

Renato, o Russo


Sim, leitor. Lembro de mim nos tempos da universidade, de como eu era, e comparo com o que sou agora. O modo como eu (não) levava as amizades. A péssima administração que fazia do ridículo tempo livre que me sobrava. As noites em claro estudando coisas tão somente para ir bem em provas. A negação de dedicar-me ao que me atraía de fato. A ausência de tudo que não fosse relacionado ao meu curso.

As coisas melhoraram 100% hoje em dia. E ainda sou um menino sério e competente. Sério até demais, o que já me rendeu o apelido de Madre Superiora em pleno Carnaval, à beira da praia. Definitivamente não sou o cara que sai correndo pelado na rua; sou antes o que sai atrás dos nus, com uma cueca na mão. E sou competente, sim, segundo pesquisaData Folha junto aos meus antigos chefes.

Tenho medo de tudo voltar a ser o que era, no momento em que eu pisar na universidade de novo. Fato é, leitor querido, acho que saí daquela fase negra sem aprender a lição por completo. Enquanto lá estava, perdi pessoas muito queridas; e acho que me culpo um pouco por tudo, ainda.

Isso não é uma ode ao ócio, leitor precoce. Tão pouco uma ode à ocupação desenfreada e desumana. É quiçã um grito, de alguém que não se (re)conhece quando está sentado numa desconfortável cadeira universitária...e que também já não tem a mínima paciência pra papo de psicólogo.

Beijos no mindinho, leitor companheiro! E obrigado por ler!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Massa fresca em São Caetano

Sábado, minha namorada e eu fomos assistir à apresentação de um amigo na escola onde ele faz aulas de bateria, em São Caetano. Pra variar, me perdi pelo caminho e acabei chegando na rua Amazonas, onde fica a escola, com 40 minutos de atraso. Já meio sem esperanças de ver meu amigo tocar, passei por alguns estacionamentos com preço absurdo, retornei por uma paralela à Amazonas, e de volta nela, resolvi entrar num estacionamento com o toldo meio apagado, onde uma luz fraquinha podia ser vista numa espécie de bar, nos fundos. Eis que entro com as duas rodas dianteiras no lugar e ouço barulho de madeira se despedaçando em baixo de mim. Nisso surge um homem com os olhos esbugalhados, cigarro na boca, gritando:

- Puta merda!!! Tinha massa fresca aí!

Pois é. A rampa de acesso ao estacionamento estava fresquinha, desprotegida, logo depois da guia rebaixada. Ficamos eu e minha namorada, imóveis, olhando a fúria e o sangue no zóio do homem à nossa frente aumentarem. Foi quando ele perguntou num tom de voz visivelmente alterado:


- A mulher não te ligou?

- Ah...não! - respondi

Eu, totalmente sem jeito, pedi desculpas e fui dando ré, pensando na críptica pergunta e na misteriosa mulher que, sem saber que eu iria à São Caetano naquele horário, e que iria tentar estacionar naquele estacionamento, deveria ter me ligado avisando...

- Ei, você! Não entre no estacionamento do número X da rua Aurora; tem massa fresca na entrada!

Analisando a situação após o calor do momento, o cara deve ter achado que eu era mensalista do tal estacionamento. Ou, de fato, a mãe Diná é a moça do caixa.

Em tempo: para minha sorte, meu amigo tocou Kansas magistralmente, cinco minutos depois de eu chegar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sabe o que eu acho? Que o Wolfram|Alpha é um site legal, mas que não tem vocação para Google Killer. Nem agora nem mais tarde, se persistir a missão dele: "gerar respostas pela realização de a partir de sua própria base de conhecimento, ao invés de buscar na web e retornar links" (como se pode ver no FAQ do site).
Pra quem não sabe, o Wolfram|Alpha é um site de buscas diferente por possuir uma gigantesca base de dados (em crescimento) e utilizar o Mathematica. Tenho breves e terríveis lembranças do Mathematica, algo relacionado a teoremas escritos em livros amarelados e à impossibilidade de voltar pra casa num feriado, por ter um trabalho a entregar.

Pra começar, o site tropeça em perguntas simples. Tente converter 8:40 PM no horário local de New York para o horário de Londres. Ou fazer uma comparação entre a Califórnia e São Paulo. No primeiro caso, o Wolfram simplesmente não entendeu minha pergunta. No segundo, os dados de São Paulo eram poucos e incompletos: para alguém ignorante, por exemplo, o mapa mostrado não permite afirmar ao certo se São Paulo é um estado do Brasil, uma cidade, ou ainda se o próprio santo habita o litoral brasileiro.


São Paulo: o que isso?

E ok, ainda se o Alpha não for parte do nome do site, e sim indicação de que ele ainda está em sua versão preliminar (o que atenuaria a gravidade dos defeitos acima), o principal problema dele não está aí. Não é de ordem tecnológica, e reside na própria missão do site, aquela que coloquei no primeiro parágrafo. A idéia de gerar respostas a partir de uma base centralizada vai contra a noção que mantém a web viva até hoje: o espalhamento, a distribuição de informação. A idéia de que uma fonte só é boa pois existe outra que a complementa, ou mesmo que a nega.

Ora, o Google não seria tão bom se retornasse apenas resultados vindos dos livros do Google Books, essa sim, base "própria" do site. Ele é o que é pois comporta-se como a clássica search engine: retorna resultados, pura e simplesmente. E o faz bem. E mesmo a Wikipedia, ainda que centralizada, é contruída de modo colaborativo. Já o Wolfram|Alpha não retorna resultados externos (exceção feita a alguns esparsos link aqui e ali), e não deixa ninguém meter o bedelho em suas bases.

O Wolfram|Alpha seria um Google Killer se tivesse surgido há alguns bons anos atrás. A Internet amadureceu, e nós amadurecemos com ela: não queremos mais que nos dêem a informação assim, de graça; queremos tão somente (boas) ferramentas que nos levem a ela. Gerar gráficos bonitinhos e tabelas comparativas tem a ver com isso, mas não são principal.

Mas é claro, eu posso estar enganado...e, se de fato estiver, é bem provável que seu e-mail seja um @wmail daqui a alguns anos.

terça-feira, 28 de abril de 2009